sexta-feira, 28 de dezembro de 2007

O capacete

Ivanildo veio a São Paulo visitar Irailton.

Ao chegar, Ivanildo notou o progresso do amigo, que tinha adquirido uma motocicleta.

- Eita, coisa lindja.

Irailton era orgulho só.

Quando Ivanildo foi embora, levou um capacete de presente do amigo. Era um capacete velho, aposentado, mas uma lembrança de coração, disse o amigo.

Mas Ivanildo não tinha moto. Mas o capacete, ainda que meio desbotado, era tão bonito, de um preto e um vermelho ainda reluzente, que Ivanildo até sonhou com diabo do capacete no ônibus.

De volta à vidinha do sertão, Ivanildo guardou o capacete em cima do guarda-roupa. Era deitar e acordar, que ele vislumbrava o tal objeto.

Tem muita gente no sertão que tem moto. É um vai e vem danado. Mas Ivanildo não trabalhava. Socava mandioca pra mãe, ou matava uma galinha, de vez em quando ajudava o tio no armazém, mas em geral gastava o que ganhava na cachaça. Não tinha dinheiro pra comprar moto.

Então este era o dilema de Ivanildo, depois da vinda a São Paulo. Tinha um capacete meio gasto, mas ainda bonito que queria usar, mas para usar teria que trabalhar pra então entrar num banco, pedir um financiamento e finalmente ir à concessionária, cadastrar-se como cliente preferencial e comprar a tal da motocicleta e aí sim usar o capacete.

E o tempo foi passando, o Ivanildo mandioca socando e cachaça tomando, e nada de trabalho arranjando, mas a vontade de usar o capacete persistindo, tanto que ele namorava o objeto esférico, limpava, dava brilho, punha na cabeça e se olhava no espelho.

Mas um dia, por uma sorte do destino que iluminou o rapaz, num é que a mãe adquiriu um jegue?

- É pra facilitá a vida, disse a véia.

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