segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Sujeito barrado do ciberespaço

É a cena principal do Paris, Texas, de Win Wenders. O sujeito é barrado por uma tela de vidro na interação com a prostituta. A visão tem um só sentido. Ele enxerga a mulher, mas esta não. A voz só vem pelo interfone, ou seja, a voz é obliterada para alcançar seu alvo.

O que Wenders fez parece que foi prever o que acontece com a gente no ciberespaço. O sujeito virtual é alguém, um ser, um existente que:

Não tem olfato
Tem uma visão bidimensional
Não tem tato
Tem audição mediada
Não tem paladar

O ser do ciberespaço tem dois sentidos parciais – ele ouve pela caixa de som e vê pela tela do computador.

Talvez esse seja o principal desafio da tecnologia: dotar o sujeito virtual de sentidos. Quando não há sentidos, o equívoco na comunicação se potencializa, se espraia. Alguém já disse que a comunicação não existe. Cada um entende uma coisa. E ninguém entende a mesma coisa.

Sem os sentidos, o ciberespaço é uma névoa de semblantes, o imaginário transborda e convoca a morte.

O ciberespaço é a morte do simbólico na cultura humana.

8 comentários:

Anônimo disse...

"O ciberespaço é a morte do simbólico na cultura humana." ?
Discordo..
Os sentidos são ilusão de sentido no ciberespaço.. Isso é o simbólico, não?!? Dar sentido a algo sem sentido pra aliviar a angústia do não saber...
O que tá por trás da tela, a imagem que vemos, não é aquilo - é uma programação html com um monte de caracteres aparentemente desconectados - e o que ouvimos vai na mesma linha...

Parabéns pelo blog, crítico e bem humorado!!!

Anônimo disse...

isso nos remete a uma famosa discussão do século xx, "apocalípticos ou integrados", e a outra anterior a essa, "a sociedade do espetáculo", e a uma terceira que a precede, "a indústria cultural". nesse ritmo, ainda voltaremos ao topo das árvores para fugir dos predadores.
lauro hernandez

Anônimo disse...

Concordo com sua teoria, mas acredito que o ciberespaço seja uma maneira magnifica de sermos jogados de testa com o nosso subconsciente, que de uma maneira positiva ou nao, faz artimanhas para suprir a ausencia da expressividade real, desenvolvendo nossa criatividade e proporcionando de maneira sutil uma especie de terapia ... Até porque para muitos, a realidade expressiva, gritante, não tem muita utilidade, pois mesmo te olhando nos olhos e te sentindo de perto não são capazes de perceber ou entender o que estamos dizendo... Talvez por excesso de lixo consciente.

Mistica Libriana
bjsss

Anônimo disse...

Mais um comentário... Quando li o post, pensei em "Closer"... existe algo no meu desejo que aproxima Paris, Texas e Closer...
Será realmente que um vidro, ou seja, a coisa em si, tem o poder de barrar os sentidos?!?

Véio do Mato disse...

Cara Amiga, essa discussão toda me parece muito interessante. Sei que alguém da nossa classe tá fazendo uma pesquisa sobre as comunidades virtuais. Pois é, eu diria que no Orkut, por exemplo, que é o que conheço, o narcisismo transborda a cada página...Eu me pergunto: qual a relação que isso tem com a obliteração dos sentidos?

Anônimo disse...

Caro amigo, acho que é a Chris (carioca que quer tomar café conosco no Starbucks) que está nessa pesquisa, mas me parece que o foco dela é o second life...
Tbm sou mais orkut... e é evidente o narcisismo que ali se dá.. é uma tela disponível para tudo e todos.. cada um é uma celebridade para seu pequeno mundo... Acho que favorece a democratização do gozo...
Agora, mais do que a relação com a obliteração dos sentidos, a pergunta é: se o narcisismo primordial se dá a partir dos sentidos (físicos), como ele se desloca do corpo?

Anônimo disse...

Cara amiga, eu fico pensando no que vc tá me dizendo e me lembro daquela questão do real e do semblante. A realização do sujeito nos dias de hoje é a possibilidade de gozar com o semblante e não mais com o real, em minha opinião, é o deslocamento do gozo do corpo para o gozo do imaginário no qual a imagem narcísica a si se basta, é uma substituição do prazer auto-erótico infantil...rs

Anônimo disse...

ah, e vamos ao café no star...